27 de setembro de 2011

Lá se vai mais um traço da História do Amapá.







Neste mês uma triste notícia chegou a este blog, o Cinema da Vila Amazonas, em Santana, patrimônio cultural do estado, por ser um ícone da arquitetura moderna brasileira, projetado por Oswaldo Bratke, e por ter sido o primeiro, está sendo “reformado” ou seria destruído?
Após anos de abandono o pior aconteceu, mais uma vez se descartou a história do estado do Amapá. Mais uma vez interesses privados suplantaram a memória coletiva, mais uma vez a história recente da arquitetura foi suprimida.
Pois toda estrutura de madeira que conformava o partido arquitetônico foi retirada, algumas paredes demolidas, há muito o maquinário do cinema havia “desaparecido”, uma prova irrefutável das possibilidades do uso desse material, que é subestimado, prova também da inventividade técnica, e uma gama de lições aos jovens arquitetos recém formados, e os estudantes ingressados nos cursos de arquitetura do estado.
Nenhuma voz se levantou contra tal fato! Nem mesmo de quem deveria, seja por obrigação institucional, seja por certo apego. Nada! Uma pequena manifestação apenas vem se produzindo neste espaço de debate, mas as respostas pouco chegam, e de quem pouco pode contra a sede insaciável de um novo, de um moderno – falso – despreocupado com a realidade e possibilidades locais.
A história se repetiu, e irá continuar a se repetir, não só com o patrimônio de Vila Amazonas mas de todo o estado se continuarmos a renegar nossa história para sermos o estado novo, das coisas novas, e sem um pingo de identidade. O restauro não aconteceu. O cinema morreu, e agora restam lamentos de um estudante.

 G4


Fotografias: Iacy Furtado e Luiz Kleumar; acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo da Unifap.
Por Wandemberg Almeida Gomes; acadêmico de Arquitetura da Universidade Federal do Amapá.

23 de setembro de 2011

Linguagem de arquitetura: uma advertência

Ao longo da história da arquitetura, a busca (quase uma obsessão) por uma “linguagem” que fosse capaz de atribuir à obra arquitetônica ou urbanística, conceitos e significados que fizessem dela o seu sentido de existência, sempre esteve em pauta de discussão entre arquitetos e críticos de arquitetura. Se por um lado, arquitetos se utilizam da linguagem de arquitetura para justificar suas criações, os críticos, por outro, usam o “discurso linguístico” para qualificar e desqualificar obras de arquitetura. 

Mas afinal de contas, o que é linguagem de arquitetura? 

Tal discussão só poderia ter surgido na década de 1960, um período não muito criativo para a arquitetura, o Pós-modernismo. Por essa óptica, a arquitetura é compreendida meramente como um fenômeno visual, pressupondo a necessidade de uma “linguagem” que ordenasse os seus “códigos” ou “signos” para que se façam entender. O mais impressionante é que essa “ideia fora do lugar”, de importar da linguística uma metodologia para se analisar a arquitetura, ganhou força. 

Nessa busca pelo sentido da arquitetura, se fez todo o tipo de analogia com estudos linguísticos e semânticos (semiologia e semiótica); Umberto Eco, renomado historiador, até tentou esboçar uma “teoria” de que os elementos significantes (“signos”) da arquitetura deveriam ser a linha, o plano e o volume. 

Mas todo esse acúmulo sobre a semiologia (estudo das línguas) na arquitetura até agora só provou o quão inútil é, pois esses estudos sobrepõem a importância da própria teoria de arquitetura, e chegam a ignorar o próprio significado da palavra arquitetura. A busca por um sentido na arquitetura é admirável quando se vive em um momento em que a produção da arquitetura (e de teoria de arquitetura) passa por uma crise de identidade. Porém é preciso ter cuidado com as analogias que tem sido feitas! Tais analogias causam muita confusão e pouco contribui para a construção do sentido na arquitetura. Na verdade isso distancia o debate do seu foco central: a arquitetura. G4


Por Petter Isackson

Artigas, Vilanova (1915 - 1985)

João Batista Vilanova Artigas (Curitiba PR 1915 - São Paulo SP 1985). Arquiteto, engenheiro, urbanista, professor. Forma-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - Poli/USP, em 1937, após ter sido estagiário na construtora Bratke e Botti. Abre uma empresa de projeto e construção com Duílio Marone a Artigas & Marone Engenheiros, ao mesmo tempo que participa de exposições da Família Artística Paulista - FAP. Em 1944, afasta-se da construtora e decide montar escritório próprio, ao lado do calculista Carlos Cascaldi, e, engajado na política de regulamentação da profissão, funda, com outros colegas, a representação do Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/SP em São Paulo. Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro - PCB, em 1945.

Recebe, em 1947, uma bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, que lhe permite viajar por 13 meses pelos Estados Unidos. Participa, em 1948, da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde passa a lecionar. Com o acirramento da Guerra Fria, radicaliza o tom ideológico do seu discurso, particularmente nos textos que escreve para a revista marxista Fundamentos, ligada ao PCB Le Corbusier e o Imperialismo, 1951, e Os Caminhos da Arquitetura Moderna, 1952. Viaja para a União Soviética, desencantando-se com a arte e arquitetura do Realismo Socialista, e mergulhando em uma crise profissional, que se estende até meados dos anos 1950, quando projeta as residências Olga Baeta, 1956, Rubem de Mendonça ("casa dos triângulos"), 1958, e a segunda residência Taques Bittencourt, 1959, com pórticos de concreto armado. Inicia uma série de projetos escolares para o governo do Estado de São Paulo, em que se destacam os ginásios de Itanhaém e de Guarulhos. Esses projetos, feitos na administração Carvalho Pinto (1910 - 1987), marcam o início das relações entre arquitetura moderna e o poder público em São Paulo, até então quase inexistentes.

Em 1961, realiza uma seqüência notável de projetos que definem as linhas mestras do que se chama "escola paulista": o Anhembi Tênis Clube, a Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula, e o edifício da FAU/USP, na Cidade Universitária, todos em São Paulo. No ano seguinte, propõe inovações didáticas marcantes na "reforma do ensino" da FAU/USP, definindo critérios curriculares que seriam adotados por muitas escolas de arquitetura. Após o golpe militar de 1964, é preso e, logo depois, exilado no Uruguai, de onde regressa e passa a viver na clandestinidade. Retorna à FAU/USP em 1967, e profere uma aula inaugural em rejeição à luta armada, intitulada O Desenho, em que defende o projeto como atitude de resistência à opressão. Projeta em 1968, com Paulo Mendes da Rocha (1928) e Fábio Penteado (1929), o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado - Parque Cecap, em Guarulhos, para 50 mil moradores.

Após o Ato Institucional nº 5 - AI-5, em 1969, é afastado mais uma vez da FAU/USP, à qual retorna apenas com a anistia, no fim de 1979, na condição de auxiliar de ensino. Reassume em 1984 sua posição anterior à cassação, após submeter-se a um concurso para professor titular, cujas arguições foram publicadas com o título de A Função Social do Arquiteto.1 É um dos mais importantes arquitetos brasileiros, tendo recebido da Union Internationale des Architectes - UIA os prêmios Jean Tschumi, 1972, por sua contribuição ao ensino de arquitetura, e Auguste Perret, 1985, por sua obra construída.


Nota


1 ARTIGAS, Vilanova. A função social do arquiteto. São Paulo: Nobel-Fundação Vilanova Artigas, 1989. Esse conjunto de argüições foi posteriormente incorporado em: ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.




por Gabriel Rosa, acadêmico do curso de arquitetura da UNIFAP

3 de setembro de 2011

Fotos Serra do Navio (parte2)


























G4
Postado por: Gabriel Rosa, acadêmico do curso de Arquitetura e urbanismo da UNIFAP 

2 de setembro de 2011

Com a palavra Raquel Rolnik

"De cidade só tem o nome"(*)

Esta foi a expressão utilizada por uma moradora de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, em entrevista concedida à reportagem do Estadão na semana passada, sobre o lugar onde vive. No maior aglomerado de conjuntos habitacionais do país, vivem 147 mil pessoas, em quase 40 mil apartamentos populares, exclusivamente de baixa renda, que foram construídos a partir dos anos 1980 na extrema periferia da cidade, sem espaços comerciais, sem equipamentos públicos, com precaríssimas opções de transporte e mobilidade. Em suma: moradia sem cidade.

Trinta anos depois, o comércio que existe hoje funciona nos puxadinhos feitos pelos moradores e a população do bairro aguarda que algum dos sucessivos anúncios de chegada de transporte coletivo de qualidade – metrô, fura-fila, monotrilho? – seja implantado. Sem dúvida, o caso de Cidade Tiradentes é uma situação extrema. Mas, infelizmente, este continua sendo o modelo que tem caracterizado a produção habitacional popular em todo o país. O resultado, como não podia deixar de ser, é absolutamente perverso: “favelização”, formação de guetos e reforço do apartheid social.

Qual o pecado original dessa política? São, pelo menos, dois: o fato de se tratar de uma política de moradia e não de cidade, e a proposta de homogeneidade social. A localização e a relação com a cidade já construída é o ponto fundamental de enlace entre estes dois aspectos, já que, dependendo de onde são construídos, os conjuntos podem ou não ter acesso a equipamentos, serviços e empregos. A localização determina, inclusive, a possibilidade ou não de uma heterogeneidade social.

Mas seria inexorável a baixíssima qualidade urbanística da moradia popular? De forma alguma. Mesmo no Brasil, nem sempre foi assim. No livro “Os pioneiros da habitação social”, ainda inédito, o urbanista Nabil Bonduki mostra que muitos projetos dos IAPs (Instituto de Aposentadoria e Pensão), dos anos 1930 e 1940, eram de altíssima qualidade urbanística e arquitetônica. Além disso, ao longo das últimas décadas, existiram vários projetos qualificados e generosos, construídos por autogestão dos próprios beneficiários, com apoio de assessorias técnicas e com custos tão baixos quanto o dos modelinhos das COHABS e CDHUs.

E hoje? O Programa Minha Casa Minha Vida, baseado não mais na produção das companhias públicas, mas em produtos de construtoras privadas, está conseguindo enfrentar este tema? Pelo andar da carruagem, parece que continuamos reproduzindo os mesmos erros: o modelo é centrado apenas na construção de unidades habitacionais, sem que áreas comerciais, equipamentos públicos (de saúde, educação e lazer, por exemplo) e políticas de transporte público sejam parte dos projetos. Sem que a equação da localização tenha sido enfrentada…

Além disso, apesar de prever um limite de tamanho máximo para os conjuntos habitacionais, de 500 unidades, o Minha Casa Minha Vida não tem controle sobre o somatório dos projetos das construtoras, que acabam construindo conjuntos muito próximos uns dos outros, gerando – sem querer – enormes conglomerados homogêneos… Parece que já vimos esse filme: Cidade Tiradentes, o retorno?

(*) Artigo escrito pela urbanista Raquel Rolnik no site do Yahoo.



G4