21 de julho de 2010

Habitação como especulação de campanha eleitoral no Amapá

Vejam essa notícia:

"Habitação: Infraero repassa terras para o Estado
Assinatura do contrato de cessão provisória garante execução do programa Minha Casa Minha Vida

Denise Muniz

A etapa que faltava ser superada para deslanchar no Estado o programa Minha Casa Minha Vida foi vencida nesta terça-feira, 20, pelo Governo do Amapá. A assinatura de um contrato de cessão provisória de uso gratuito do imóvel de área de 143 hectares de terra, ocorrida no Palácio do Setentrião, entre o Estado e a Superintendência da Infraero, dá a garantia para a execução do programa de habitação do Governo Federal.

Com a oficialização da cessão das terras, o Governo do Estado vai providenciar a titularização da área e, na sequência, elaborar o edital de licitação para contratação da obra. De posse dos projetos estruturais, a Caixa Econômica Federal dará seguimento a analise documental e liberação dos recursos correspondentes ao valor do serviço contratado.

'A cessão dessa área do aeroporto para o Estado visa diminuir o déficit habitacional do Amapá. Isso é muito importante. A Infraero está aqui para colaborar com o desenvolvimento do Estado do Amapá', declarou Sebastião David, superintendente da Infraero no Amapá.

Para a superintendente da Caixa no Amapá, Celeste Teixeira, a ocasião correspondeu à consolidação de um trabalho que vem sendo desenvolvido há bastante tempo. 'Pedro Paulo sempre esteve preocupado com a questão habitacional do Amapá. Agora conseguiu concretizar esse ato, que significa o ponta pé inicial desse jogo que queremos ganhar', reconheceu Teixeira.

Inicialmente, a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinf) enviou à Caixa relação com 1,7 mil nomes de possíveis beneficiários do programa. São pessoas de baixa renda que se adéquam às exigências para integrar o Minha Casa Minha Vida. Mas, a ideia do Governo do Amapá é aumentar esse cadastro, para reduzir o déficit habitacional no Estado.

Segundo anunciou o governador Pedro Paulo, está sendo analisada a possibilidade estrutural de aumentar esse número para 5 mil unidades habitacionais. Projetos ainda serão estudados pelos técnicos do Estado.

'Tenho grande satisfação de dizer que agora temos a terra e vemos a possibilidade enorme de aumentar esse número de unidades habitacionais. Dessa forma, levaremos moradia a mais pessoas no Amapá', otimizou Pedro Paulo, completando: 'Confesso estar sentindo uma alegria enorme por esse momento', reforçou".

A pergunta a ser feita é: Até quando os nossos gestores vão continuar tratando assuntos tão importantes como promessa de camapanha eleitoreira?
 
As terras de propriedade da Infraero sempre foram motivo de discussão, pois essas terras e o aeroporto estão localizados em um ponto que "estrangula" a circulação da cidade de Macapá devido ao fato de se localizar entre a zona norte e a zona sul da cidade, além de causar vários transtornos por estar em uma área basicamente residêncial. Por quê justo agora a Infraero teve a boa vontade de ceder suas terras ao Estado??? Terras da qual ela nunca quis abrir mão?
 
Outro problema: a questão habitacional não se trata só da quantidade de moradias, é muito mais complexo! O progama Minha casa, Minha vida, não tem compromisso nenhum com o planejamento urbano, é só números! Aí vem a dúvida: se o Governador está estudando a possibilidade de aumentar o número de unidades para 5 mil, será se ele está incluindo neste estudo o problema da infra estrutura de saneamento básico que não temos? A cidade de Macapá não suporta mais nada, o mercado imobiliário e os donos de construtoras já estão super utilizando o frágil sistema de esgoto da cidade, há vários pontos na cidade que o esgoto jorra no meio da rua, isso está caminhando para um caos!!!
 
Precisamos de infra estrutura urgente, e por favor Senhor Governador, uma vaidade eleitoreira dessas não pode ser mais importante que isso!
 
Caros amigos, o quê estamos vendo aqui é uma reprodução da velha politica dos tempos do antigo Território! A única coisa que eu consigo pensar neste momento é: Até quando?
 
Até quando vamos continuar insistindo no erro de fazer planejamento urbano sem planejamento? Até quando vamos continuar com esse modelo obsoleto de gestão? Até quando o Estado vai fazer o papel da prefeitura?
 
G4
 
Por Petter Isackson, Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da Unifap

15 de julho de 2010

Lição de arquitetura

O texto que segue abaixo foi retirado do livro “Maquetes de papel” de Paulo Mendes da Rocha.
“O assunto que vamos discutir aqui é muito interessante. A questão fundamental que navega entre nós arquitetos é imaginar as coisas que ainda não existem. (...)
Para enfrentar essa questão, devemos começar invocando aquilo que a experiência humana acumulou em forma de conhecimento, desde as origens de nossa existência até hoje. Um arquiteto deve pensar de cara em história da arquitetura, se debruçar sobre os testemunhos que temos – alguns muito emocionantes. Necessariamente temos que ir aos livros, a esses testemunhos, e saber o que é estudar para nos convencer do que estamos fazendo. Vem à cabeça a imagem de Stonehenge – aquelas pedras apoiadas num frágil equilíbrio milenar. Estou dizendo tudo isso pelo seguinte: se você vai fazer um projeto, antes de mais nada deve ser capaz de invocar a memória sobre um saber, ainda que não tenha consciência de que sabe.
A cidade contemporânea tem sido descrita como mais ou menos infeliz: congestionamento de automóveis, poluição etc. É verdade ou não? Estamos todos no mesmo barco para repensar tudo isso. Ou seja: temos que convocar o que se chama de visão crítica sobre a situação. Não aceitar isso ou aquilo, mas perguntar ‘o que é que você esta falando?’.
Por exemplo, o fato de que não há casas para todos não é mais só uma questão de arquitetura. (...) Então surge a questão primordial da arquitetura: a fabricação, a construção e a edificação da cidade. E, agora mais do que nunca, a consciência sobre a ecologia, a cidade como transformação da natureza, uma nova geografia! É exagero? Vamos lembrar de situações em que isso é mais evidente, a transformação da natureza, da paisagem, da própria geografia: a Holanda ou Santos, em São Paulo: aquilo era um lamaçal, não é? Para resolver essa situação, o engenheiro Saturnino de Brito, um grande especialista em saneamento, soube como estabelecer canais de drenagem das águas, muralhas de cais, aterros, consolidando assim o território para fazer uma cidade onde a princípio seria impossível. (...)
É tudo projeto! Essa visão da disposição espacial e da instalação das populações, das infraestruturas, das casas, é um trabalho muito engenhoso, fruto de uma determinada experiência humana.
(...)
Portanto, a cidade é o espaço ideal do habitat humano. Ela precisa ser projetada. As coisas não podem acontecer como um acaso histórico, com desvios de interesses particulares; temos que acomodar as populações no seu melhor arranjo dentro das cidades, e não só vender terrenos, como querem os especuladores imobiliários; isso gera um desastre. A cidade é para todos. São os impostos que pagam o asfalto, o esgoto, o transporte coletivo e não individual; pois, como sabemos, o automóvel entope as ruas, não se anda, e ainda polui a atmosfera. (...)
Devemos entender a dimensão política da nossa profissão, quer dizer, influir de modo justo nas prefeituras e assembléias, para que se mude a mentalidade da ocupação desse território, para que se adotem modelos mais novos, e pouco a pouco transformar esses lugares em algo melhor, para que se demonstre a grande virtude que é viver nesta ou naquela cidade.
(...) a arquitetura é uma forma singular de conhecimento, é algo complexo de definir! Porque você convoca história, ternura, memória, realização, e decide: vou fazer, então!”

G4